sexta-feira, 3 de abril de 2015

naosei

Eu vim lá da Casa Alberta
Fui enxotar solidão
Fui trilhando a trilha certa
Mas voltei sem um tostão

Fui nadando, me queimando
Foi tamanha a diversão
Que era só seguir andando
Sem destino, sem perdão

Passei pela Abbey Road
E pela rua da praça
Descansei em Belo Monte
Dormi no banzo do Alaska

A exaltação foi tanta
Que de corpo eu jazi
Acordei na hora da janta
Jantar eu não consegui

O vampiro só tem osso
Porque um dia foi vital
Morcego vira um esboço
De sua cegueira atual

Não coloco rédea em rima
Nem abstenho o contexto
Das forças que estão acima
De qualquer mero endereço

Sei que às vezes perco a trama
E precarizo o rimar
No xadrez eu perco a dama
Para o mate funcionar

Singelo o voto da vida
E a vontade de orar
Pra quem cansou de partidas
De quem prometeu ficar

Vou levando a minha vida
Sem muito te revelar
Sei que tens encarecida
Tua boca a me julgar

Embora tudo o que quero
Seja o bem da tua pessoa
Muito embora tu me deixes
Aqui varrendo essa proa

Lá no dó de uma sonata
Algum sol em si se engancha
Do meu navio de pirata
Não sirvo ninguém à prancha

Mas confesso que carinho
É queimar a última ponta
Do grafite deste lápis
No rascunho desta afronta

Porque o que vale mesmo
São sorrisos no quintal
Não só meus mas de um todo
Maior que o plano astral

Um cometa, um profeta
Professor da desmatéria
Detentor de luz seleta
Pura energia etérea

Nada cabe que me force
A esquecer o meu caminho
Rezo muito pra que cesse
Dom meu de mentir sozinho

Desci da nave em Tokyo
Depois fui para Toronto
Vi tanta desgraça e ódio
Nesse mundo seco e tonto

Quero esquecer desprezo
Raiva, inveja e melancolia
Culpa, gula, vício, peso
Quero conhecer Catia

Tu vais brilhar muito ainda
O teu nome é uma bênção
Te digo: não despejai
Teu diamante numa latrina.