domingo, 22 de novembro de 2015

domingo, 11 de outubro de 2015

From The Bottom (1st part)

You're at the top of my world
And from the top of my world
You will find out
That I couldn't climb it all

I couldn't track you that high
You climbed so quiclky that I
Fell on my knees
And you did not wait for me

Wild dogs are barking
Making me nervous while you sing
I chew the memories
So glad we yearned for that first spring
Bites me what's lacking
The taste of my smile at your blink
Now all I have is anger
Towards all the hell you left down here

sábado, 10 de outubro de 2015

Superficial

Assim, lá foi ele
Atento e calado
Em contratempo com seu coração
Calçados usados
Sapatos, não

Sóis adiados
Mas nunca
Em vão

Assim, lá foi ela
Sutil e calada
À contragosto da velha canção
Dona rajada
Senhora trovão

Trazia a enseada
Na palma
Da mão

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Saber a hora de parar

Sou uma locomotiva das mais violenta
ATROPELA E ACELERA
ACELERA E ATROPELA

Eu sou um trem dos mais desgovernado
GRITA O QUE RISCA
RISCA O QUE GRITA

Furiosamente me enfio à frente
MATA MAS MORRE
MORRE MAS MATA

Fodidamente abandono os meus podre
NO PIAR DAS ÁGUIAS
NO FITAR DA PÁTRIA

Inferno! Aí vem mais uma estação...
PEEWEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
PEEWEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE

Fascínio

Fascínio é a arte de dominar a obsessão.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

I.M.

I am blood
I am veins and tissues
I am bones
I am parts of a whole

I am real
I am flesh and muscles
I am now
I am what I can be

I am crude
I am health and sickness
I am will
I am chilling thriller

I am weak
I am small and brief life
I am strenght
I am no big mistery

I am life
I am rhythm and rest
I am dying
I am spaceless timing

I am heat
I am sweat and silence
I am love
I am hatefully bonded

I am lack
I am need and needn't
I am vice
I am broken glasses

I am me
I am you and someone
I am us
I am blurry picture

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Secret Task

I'll be the best
For a secret task
You'll realize
When I achieve it.

I'll be the worst
To make it last
When I am done
You will perceive it.

I'll take that task
I might lack rest
But I'll pursue
Crush and absorb it.

And when I burst
The whole damn past
Will be so tiny
That I'll forget it.

[The Bus Comp.]


[Grasshopper & Waterdrops]


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

That Favorite Chick

You don't draw your gun that quick
Or you'll scare that favorite chick
If you run, she might be shocked
But when you walk, seems like a stop

You won't know a girl in days
Can't cut paths, you must find ways
Dodge your own imagination
Stay strong upon your foundation

Bites me what a girl can't see
When she's special, she will flee
Because she believes it not
No girl smiles at a man's soft spot

Love is nothing but a test
The queen of hearts, she never rests
Sometimes, though, she's got a flu
Splashes snot all over you

That sick glow inside your mind –
You're crafting glasses for the blind!
You don't draw your gun that quick
Or you'll scare that favorite chick.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

What about her?

Ilona?
Ah, yes, yes. She used to melt me.
With all those dead lights, mind puzzles.
The drawings. Yes, the drawings were the key.
When we lost it, we lost us.
Ilona, she left me for a physics course.
Though we never were together.
She had pity, so she was mercy.
Mercy.

She had the most beautiful hands.
I can't seem to get why she stopped.
Stopped me.
That stuff she did, yes, all that death.
She represented it with so much life.

Ilona, she will not die.
Maybe just physically.
Well, maybe not.
She left me for a physics course, after all.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

[Milk]


(i'm waiting
 i'm waiting
 i'm waiting
 ...for you)

[Retrato Psicológico I]




terça-feira, 8 de setembro de 2015

Não mais.

Eu não vivo mais em você

Viestes escrever-me.
Ora,
Pena já basta-me a minha!
E a tua tinta
Há muito secou.

Não vou mais sangrar por você

Meu sangue é ouro
Raro, sacro soro
E tu,
Em anéis de madames
Fizeste me exaurir.

Eu não quero mais ser você

Foi-se o que eu gostava
Simples paz de habitá-la
Nós,
Nas linhas que traçamos
Gargantas a ruir.

Não posso mais jogar com você

Querias ganhar-me.
Ora,
Apostei tudo nesta jogatina!
E o teu blefe
Eternizou.

Não mais.

24, 23.

Ônibus
Bancos
24, corredor
23, janela

O divisor
Não dividia

Algo ali
Consentia

O cheiro
Cabelos
Desejos

Vira pra cá
Vira pra lá

Dorme
Não dorme

Encosta de leve

Pulsação

Recua

Sensação

...Fingimentos.

Rebecca

Rebecca nasceu.
Olhinhos fechados, toda lambusada.
O cordão cortado
Rebecca chiava.
Nos primeiros meses, não via nada
Um ano depois, já quase andava.
Mas nada falava.

Rebecca crescia.
Perninhas curiosas, e já desmamada.
Expectativas
E Rebecca, nada.
Nos primeiros anos, não falava nada.
Ouvia as lamúrias dos pais
E chiava.

Rebecca cresceu.
Sangrou lá embaixo, toda apavorada.
Acalmou sua mãe –
Rebecca estranhava.
Já tinham sabido: ela não falava.
Da boca de Rebecca, não sairia
Nada.

Rebecca chiou.
Chocante acidente, órfã ficara.
Seus pais, o carro –
Fé dilacerada.
Diante da perda, ela agonizava
Sem achar saída, Rebecca
Gritara.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Itchy

Quase
Nem te conheço
Pessoalmente
Mas
O dia em que
Você sentir
Coceira
Chata
E insuportável
Naquele ponto
Quase
Inalcançável
Das tuas costas

Posso coçar pra você. {:

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Vivo.

É idiota só saber escrever solidão
Um murro na cara de quem não pede perdão
Me sinto imbecil e nem um pouco construtivo
Quando faço rimas em torno deste tópico destrutivo

Vou separar em estrofes, vamos lá
Tô socado no meu quarto há meses, tô sem ar
Abro a janela e logo fecho por causa dos bichos
Isso não tem nada a ver com o fato de escrever merdas

A solidão é um mal que a gente inventa
O bloqueio, a incapacidade que deus não aguenta
Estar só é só porque não se está legal consigo mesmo
É a coisa mais imbecil que em anos já me aconteceu e acontece

Porque, na verdade, sou egoísta e teimoso
E o que há de errado nisso? É o pecado de homem
Só preciso confiar mais na minha visão de mundo
E parar de tentar sentir que preciso de qualquer coisa

Aí voltamos ao tópico de precisar não precisar
Que engraçado, teimosia e egoísmo, junto com duplipensar
Eu tenho que, mais do que eu quero, eu tenho que, logo, não quero
Por que não quero? Ora, eu devo querer. Talvez porque devo é porque não quero.

O dever, o que há de errado com ele?
Aceita logo que tens uma missão neste mundo.
Procura encontrá-la, pra que tu te conheças melhor
E, se não encontrá-la, ora, faz a tua própria missão, és capaz!

Escrever sobre depressão, ansiedade e o caralho
É um troço que só vai te deixar ainda mais pra baixo
Tem tanta coisa acontecendo, mas tu tem tanta coisa boa
É só parar de lutar consigo mesmo, e começar a enfrentar o mundo

Que, por sinal, não é assim tão grande quanto tu pensas
Tem muita coisa acontecendo, sim, mas muito do que acontece se repete
Tu também vai se repetir, isso é o que acontece com o cosmo em geral
Não tem problema, sabes disso, então, repita-se, mas com genuinidade

Aproveita esse vasto vocabulário que, até agora, não usastes pra porra alguma.
Faz alguma coisa, nem que fique feio, que seja bruto, apenas faz.
Sem ficar lutando consigo mesmo, as pessoas sentem medo, não é bom.
Apenas faz. Alguma coisa, qualquer coisa, e não tenhas medo.

Não ter medo de se expor. Ou ter, mesmo assim, driblar.
Entende? Não são todos os que te observam a todo o momento.
Ninguém te espera sair de casa pra marcar em um calendário do diabo.
Conversa mais contigo mesmo.

Olha a capacidade de fazer coisas inacreditáveis, ou apenas belas.
A vontade gostosa de sentir que está fazendo, apenas.
Finaliza os teus projetos e, se não ficar bom o bastante,
faz de novo. De novo, de novo, de novo, até encher o saco.

Depois leva o saco pra algum lugar, e mostra, deixa à mostra.
Muitos vão achar só algo, poucos vão achar lixo
Menos ainda acharão que é algo mágico
São os certos, mesmo que tu não aches.

Pára de te preocupar com tudo o que acontece à tua volta.
Pára de colocar defeitos nas coisas que tu ainda não fez.
Pára de dizer pára pra coisas que vão te chacoalhar a alma.
Pára de pensar muito antes de fazer as coisas, mas pensa, ainda.

Continua a fazer, apenas - e simplesmente -, fazer. Faça.
Pontualiza bem, mas não te julgue incapaz por não cumprir tudo.
Se não for, diz que não vai ir, se disse que vai, faz um esforço, e vai.
Ora, é tão simples, é tão... simples.

Tudo o que tu precisas é não precisar de nada, mas precisar de ti.
Precisa de ti, sente de ti, vem de ti, mas depois, por favor, volta - a ti.
Pega aquilo que não te faz bem, que é confuso, e coloca em segundo, terceiro, centésimo plano.
Ou, se estiver te matando, enfrenta, ou esquece.

Sorri com as tuas coisas, visita mais os teus amigos.
Visita mais aqueles que não estão tão próximos
Pra tentar entender porque isto aconteceu, ou por que estão não tão próximos.
Vê as pessoas, os conhecidos, os amados, mas ama, ama e te apaixona mais.

Erra mais, fode mais, volta a enxergar as tuas vantagens.
Vai e te compara mais com aqueles que não queres ser
Tenta entender por que não queres ser, tenta desvendar a si mesmo
Sem te ferir, sem desespero.

Medita mais, respita mais, percebe-te mais, erre mais.
Erre bastante, tentando acertar, se ferir alguém, peça desculpas.
Mas não te impõe tudo isto que estou a pensar agora.
Apenas viva. Viva. Viva a vida. Vida, viva ela.

Vivo.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Eu só vou.
Eu vou...

Só.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

@lone.

Ring the bell and there's no one home;
Arrive back and everybody's gone;
Wait for the beep that won't reach the phone;
Give up. Find yourself alone.

To be normal?

To be normal: to not emphasize it.
To reach a state where one does not care if people know that he's not emphasizing it.
After all, being normal is simply being yourself, and being yourself is the hardest thing.

Mortal Man (up)

Inside a mortal man
Lies a shiny god
And a deadly beast

He has journeyed far
Think he's saw enough
Though still he's so young

Duels within himself
Praying for the prey
And starving to death

Weird dreams haunt the man
As he thrives for peace
But his anger is hurt

Ice Cream

The day that you leave me
I'll scream
You're just like a dream
Ice cream

The Train

Here I stand
Waiting for the train that never comes
That old train, sculpted in my late bones.
But I don't wanna wait.
Oh I don't wanna wait.

For ages have I sailed
Many pages I have written
Now I read it, read it, read it
And always forget what I meant

Someone told me the train's a comin'
I have a glimpse of it's arrival
But daddy told - don't trust anyone
Anyone but yourself

So I picture myself
I am pushing my train onward
I am leaving myself behind
And though I am inside the train
I am always behind the train

Suddenly I'm back
Where the dreams are venomous
And daydreaming is poisonous
And the train is so far away
Oh the train is so far away

Now I dance around conclusions
Over facts that just can't be
Visions and delusions
I saw Eve - she chopped the tree!

In this endless ride inside me
There's no time to get it down
The train keeps me from being free
Sees me playin' a lonely clown

Someday I'll ride the train
But it won't ride me no more
First I must understand
How come one crosses the shore

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Se foi bom, não sei.

Me disseram para parar
Mas eu não parei.

domingo, 2 de agosto de 2015

A última poesia supimpa.

Este é meu derradeiro texto para encerrar um sonho em vida
Um sonho que não pode ser, tão concreta é a partida
Daquela que deteve toda uma emoção completa
Que entortou minha espinha, fez minh'alma ereta.

Um episódio onde dois não se uniram em batalha
Contra três ou mais, porém, remoendo migalhas
A epopéia de um que sonhou um dia em realizar
Mas que em sonho ficou, realidade a lhe entortar.

O altruísmo de te querer bem, nas dependências de um amigo
É muito lindo, embora não caiba sequer em meu umbigo.
Cabe a mim dizer que jamais te quis qualquer mal
É só que tua presença não preza um destino carnal.

Nobre é o homem que não teme os seus sentimentos
Sagaz, porém, o que não sucumbe a contratempos
Surgidos de fantasias que tendem a nos sufocar
Sagaz, aquele que roubou bocados de teu ar.

O amor que há de vir, constrói-se em vida
A matéria prima é vencer a partida
Até que a emoção torne a ser completa
Até que a espinha torne a estar ereta

Mas de nada adianta caprichar na janta
Se o fogo, mana da tua vela, não encanta
Sem ter os teus olhos brilhando em meu céu
Estrelas no céu da tua boca, sem mel.

Atravessando as sombras de todas más línguas
A revirar alegorias, tornei-me mar de ínguas
Enfeitado com o aroma de velhas olivas
Não foi preciso tamancos para dançar sob ogivas.

É fato que sempre tomo o ônibus espacial
Rumo àquela novela que reprisa, sem muito sal
Concordo que muito depositei nesta poupança
Que mais cantou meu medo do que sorriu na minha dança.

Mas muito atribuo a ti, sei muito bem disto
É que não sei lidar com o que um dia foi bem quisto
Só posso dizer que muitas oportunidades criei
Mas o dom de esperar - não fez de mim o teu rei.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Minha Escrita Morreu

Minha escrita morreu, não mais sei escrever
Tampouco enfeitar aquilo que há de crer
Minha escrita morreu e eu sigo aflito
Caguei-me, ao tentar construir um mito.

O tédio me engole a este exato momento
Sou chato, quadrado e inimigo do vento
Releio minh'obra, mas obra não há
Só lixo no chão e poeira no ar.

Minha cuca parece a caixa de gordura
Que entupida impede a pia de estar pura
É tanta porcaria que já estou no talo
Nojeiras tamanhas, podridão do ralo.

Pouco do que trago faz muito sentido
Muito do que faço é somente alarido
Feito um cão que late detrás do portão
Entreaberto... Segue latindo, então.

Assusta-me tal potencial incisivo
Que habita a escrita de um depressivo
Enquanto a felicidade bate à porta
Manca, caolha, fodida e toda torta.

É só mais um dia como qualquer outro
Algumas novidades ocorrerão de novo
Espero um dia conseguir transcrever
O sal desta Terra que há de nos comer.

terça-feira, 9 de junho de 2015

[...]


domingo, 10 de maio de 2015

Cansado

Cansado das pessoas me dizendo o que eu devo fazer, como fazer, quando fazer, apontando o mundo como se a culpa de ele girar fosse minha.
Pessoas enterradas sob suas próprias raízes, sem asas, sem força, e o que é mais cruel: sem criatividade.
O marasmo de suas rotinas é a cerca que cresce maior a mim: suas vozes, sons tão perfeitos que tudo o que eu desejo é sumir.
Adiante de minha fatídica revolta, gritos perfuram meus tímpanos cansados e enchem minha alma de tédio e resignação.

Cansado de tudo o que conheço. Cansado da gaiola. Da inércia. Dos passatempos repetidos. De anos e anos, que em nada mudaram. Das cobranças, do otimismo enganoso, das faíscas da paixão.

Eu desejo me desprender de todo e qualquer laço que não escolhi.
Quero voar pra longe, quero ver o mundo.
Que eu morra de frio, que eu passe fome. Que seja, que veja.
O sonho está morto.

É hora de acordar.
Despertar.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

naosei

Eu vim lá da Casa Alberta
Fui enxotar solidão
Fui trilhando a trilha certa
Mas voltei sem um tostão

Fui nadando, me queimando
Foi tamanha a diversão
Que era só seguir andando
Sem destino, sem perdão

Passei pela Abbey Road
E pela rua da praça
Descansei em Belo Monte
Dormi no banzo do Alaska

A exaltação foi tanta
Que de corpo eu jazi
Acordei na hora da janta
Jantar eu não consegui

O vampiro só tem osso
Porque um dia foi vital
Morcego vira um esboço
De sua cegueira atual

Não coloco rédea em rima
Nem abstenho o contexto
Das forças que estão acima
De qualquer mero endereço

Sei que às vezes perco a trama
E precarizo o rimar
No xadrez eu perco a dama
Para o mate funcionar

Singelo o voto da vida
E a vontade de orar
Pra quem cansou de partidas
De quem prometeu ficar

Vou levando a minha vida
Sem muito te revelar
Sei que tens encarecida
Tua boca a me julgar

Embora tudo o que quero
Seja o bem da tua pessoa
Muito embora tu me deixes
Aqui varrendo essa proa

Lá no dó de uma sonata
Algum sol em si se engancha
Do meu navio de pirata
Não sirvo ninguém à prancha

Mas confesso que carinho
É queimar a última ponta
Do grafite deste lápis
No rascunho desta afronta

Porque o que vale mesmo
São sorrisos no quintal
Não só meus mas de um todo
Maior que o plano astral

Um cometa, um profeta
Professor da desmatéria
Detentor de luz seleta
Pura energia etérea

Nada cabe que me force
A esquecer o meu caminho
Rezo muito pra que cesse
Dom meu de mentir sozinho

Desci da nave em Tokyo
Depois fui para Toronto
Vi tanta desgraça e ódio
Nesse mundo seco e tonto

Quero esquecer desprezo
Raiva, inveja e melancolia
Culpa, gula, vício, peso
Quero conhecer Catia

Tu vais brilhar muito ainda
O teu nome é uma bênção
Te digo: não despejai
Teu diamante numa latrina.

terça-feira, 31 de março de 2015

eu vou ser usado

Eu vou ser usado.
Esperança sairá correndo do meu abraço. O meu sonho tornará a tormento.
É ducha que não falha em pingar sobre meu crânio. Insistente, quer apenas penetrar a carranca, lavar todo o lodo dos meus pensamentos. Mas pouco ela pinga. Eu a abriria: alguém pode por favor me dar um pezinho?

Eu vou ser usado.
Minha imagem e semelhança retratarão em joguetes.
Sou o olhar do gato que viu fantasma, muito embora também eu habite sua asma.
Estou surdo, por isso os filmes perderam muito de sua graça. Sento-me, então, à cabeceira da cama, resumindo-me a uma leitura: é o livro da vida.
Trata-se dela batendo à minha porta. Não atendi, pois não a ouvi.
Estou surdo, lembra?

Eu vou ser usado.
Sou artífice em um mundo de inocência e ingenuidade:
Nas horas vagas, sou observador;
Nos jogos de amor, sou curinga;
Nos sonhos de paz, sou patriarca;
Na sobrevivência, sou escravo;
Na busca pela verdade, sou tolo;
Nos solavancos, sou guerreiro;
Na harmonia da vida, sou matemático;
Por fim, no tempo e no espaço, sou visgo - de colapsos.

Eu vou ser usado.
Para tudo na vida, existe um porquê. O que não sabemos é que nem sempre podemos entender.
Se eu for faca, espero poder um dia ser carne.
Se eu for lua, quem sabe um dia posso vir a ser sol.
Se eu sofrer demais, tomara deus que um dia eu sorria toda estrada.
Ora caberão as minhas lágrimas, num lago onde toda a dor tomou forma da mais pura beleza.
O meu penar por fim construirá um legado de humanidade, verdade e conjunta consciência, praticado o bem.
Os desejos primitivos não mais serão a força que guia a razão, porém a alma.
Mas antes disso, eu vou ser usado.

Eu vou ser usado.
Sou espelho para as tuas qualidades. Fazes de mim a perfeição que não poderás alcançar.
Desenhas, no quadro eu, tudo aquilo que te falta.
Com lápis sem grafite e canetas sem tinta.
Tens o dom de projetar em mim tudo aquilo que te habita.
Tu me olhas, eu, postado aqui, teu supremo espelho, e te arrumas pro teu cotidiano festival.
Eu não tenho espelho. Da tua ajuda, preciso.
Eu não tenho espelho: eu sou o espelho.
Tu me vês, então, diz a mim quem sou.

Eu vou ser usado.
Para todo fim, recomeço.
Até que a morte nos separe, agradeço.
Obrigado, por me dar de comer: arte de não ser amado.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Quem sou eu?

Quem sou eu? Perguntou.
E empurrou com a barriga
Até que a fome o matou...

[greenaway]


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

BDC

Considero-me inteligentemente supremo.
Põe-se, disto, a galope o destino:
Eu, de ego à bagagem, o burro de carga.