quarta-feira, 10 de julho de 2013

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A Intrusa

Adentrei o quarto, ela estava ali
Vestia minha camisa vermelha
Que casou feito pluma
Com a tentação em seu sorriso
O rosto era um desenho suave
De sobrancelhas vis
Separando das vestes a vermelhidão
De seus cabelos

Usava uma saia em tons selvagens
Verdes e azuis-marinhos luminosos
Que, à meia-luz, se alaranjaram
Selva e sonho, cítrica acidez
Cores musicais, insaciáveis
Perante a firmeza de seu olhar
Janelas de vidraça agora rompida
Estilhaços cristalinos, estrelas

Havia apenas luz de velas
Projetando sua sombra com precisão
Penumbra perfumada
Sapiência que dá lugar ao romance
Magia negra que purifica
Feitiço harmônico, desejo escorregadio -
Escapado a um começo cafeinado
Aconchegando-se no inesquecível

Fitou-me e me assustei
Ainda não me era crível aquilo
O álibi da surpresa sequer existiu
Foi o crime mais que perfeito
A cena que transborda encanto
Num filme retrô em tecnicolor
E no desenrolar daquele momento -
A mais verossímil atuação

Do elenco.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O Despertar

Abriu os braços em pêndulo
Desafio gravitacional
Implodia, logo, explodiu
Fugaz
Fez-se fenda no tempo
Topo
Cume
Vórtex
Despertou de um sonho
Conhecido por
Realidade

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Planetinha

Fiquei sabendo que iria ao planeta Terra, e que teria uma missão. Avisado sobre os contrastes que abalam a estrutura da existência, ensinado a estender a mão ao próximo, lembrado de que voltaria para mais uma vez desembocar numa outra dimensão qualquer. E então, a luz.
E logo, o escuro.
Senti mãos, ouvi vozes, eu crescia. Cresci.
Nasci.
Era-me tudo tão estranho!
Fui amamentado, ao seio da mãe, depois à mamadeira, até que aprendi a segurar copos.
Jamais usei bico, o que talvez justifique minha ansiosa fixação oral.
Aprendi a beber. Bebi. Até que esqueci como se mama.
Aprendi a comer. Apareceram dentinhos, que foram caindo com o tempo.

O que teria sido aquilo?
O visgo de um vislumbre melancólico, talvez, pelo fato de ter nascido sozinho.
Não tinha amigos, apenas árvores em que eu trepava.
Ficava horas de galho em galho, coletava frutinhos pra experiências que nunca concluí.
Observava o curso das formigas.
Sentia-me só.

Sempre me senti só. Sozinho. Solitário.
O mundo das idéias era tão grande pra se estar apenas por si mesmo!
Já praticava poesia, só não havia ainda a teoria. E pra quê?
Não havia qualquer coisa de errado em estar sozinho, salvo por um fato.
O timbre.
A voz aguda.
O olhar profundo. Querido. Também curioso.
Feminino.

Do meu peito, despontou uma faísca chamada saudade. Dentro daquele mundo ideal em que morava o sonho, aquele planetinha gigantesco que me permitia imaginar qualquer coisa. Nunca precisei da Xuxa pra me ensinar a imaginar. Era, por si só, a própria imaginação quem me imaginava, e me desenhava num espelho que eu pudesse pensar, logo, refletir. Mas faltava algo, e tão logo descobri esse algo.
Alguém.
Faltava alguém ali comigo. Uma pessoa que detivesse um timbre angelical, poder supremo de contrastar com a minha voz e com as minhas atitudes. A voz aguda que em tom ameno complementaria a minha, outrora explosiva.
Uma menina.
Mas eu cresci. Conheci. Vislumbrei. Entristeci-me e fugi do meu reflexo apenas para poder me amar novamente.
Foi ficando tão difícil. A simplicidade que eu tinha a oferecer nunca era o bastante. A chave para o meu planetinha gigantesco ficava ali, debaixo do nariz, tão óbvia e sublime que não havia pureza capaz de a encontrar.
Eu cresci.
Desconheci.
Tentei esquecer. Poucas vezes consegui.
E me alegrei novamente. Jamais com a intensidade anterior, mas me alegrei.
Alegraram-me.
Ou, talvez, alegrei o reflexo de outrem em mim.
Nunca soube.
Nunca saberei.
Mas cresci.
A menina, também.
Os sonhos continuaram os mesmos. Todos eles em seu devido lugar, ideais, puros.

Até que voltou a sensação vivida na infância. Aquela descoberta, aquele desconforto, aquela solidão, aquela tristeza. Voltou, sim, sem que eu precisasse tocar meu mamilo. Tentei distrair meus sentidos, afagar a mim mesmo com o toque, com a sutileza de um vôo até a realidade. Tentei até tocar meu mamilo, em desafio, rebeldia. De nada adiantou.
Procurei a cura à medida que o tempo se arrastava.
Conheci os males do mundo e suas máscaras.
Algumas caíam, outras, capturei e uso até hoje. Poucas por vontade própria.
Saboreei o que pensara ter sido a menina.
Tantas vezes, tantas amarguras.
Suas máscaras caíam e elas não eram bonitas nuas.
Não tão bonitas quanto a lua.

A mulher. Sim. Não era mais menina, pois ela crescera tanto quanto eu.
Procurei a mulher.
Mãos, olhos, bocas, gestos, seios, pernas, glúteos, vaginas, sexos, chás, cafés, chocolates e dejetos. Provei de tudo um pouco. Provei de todas alguns, de algumas, tudo. Mas a chave continuava ali, até que percebi haver algo de errado.
Errei quando pensei que quiseram sequer tocar a chave.

Meu mundo caiu.

A mulher.
Não podia ser. Pudera eu cometer tamanha gafe às raízes do destino?
Enlouqueci. Pirei na batatinha, viajei na maionese.
Fiquei completamente louco.
Não sabia mais no que acreditar.

Foi a esperança que me salvou.
Sim, a espera, despida de ansiedade.
Olhei para dentro de mim, o planetinha ainda era gigantesco, e os sonhos ainda estavam todos ali. Aquela velha sensação também me acompanhava, porém, não mais com tanta aflição, aprendi a domá-la com meu próprio reflexo, aliado à luminosidade das estrelas que escolhi seguir.
Percebi que a confusão seria inerente do meu ser até que eu deixasse de ser.
Quando?
Apenas quando morrer.
Mas não o sofrimento.
Este não podia continuar. Tinha de parar.

Lembrei dela novamente. Seu timbre angelical que rompia a escuridão, acolhia-me em suas notas como uma harpa acolhe a beleza. Sua voz aguda contornava as explosões do meu pensamento com canetinhas de cores vívidas, ora quentes, ora frias, sempre presentes.
Ela, a mulher. Que voltou a ser menina, tornando a memória de seu crescimento uma máscara, daquelas necessárias e que não se pode controlar, ou evitar.

A menina.
Lembrei dela e ela se lembrou de mim. Sabia que a hora havia chegado, que nossos sonhos não se cruzariam, nem se chocariam.
Enquanto se aproximavam, fundiram-se. Fecundaram-se. Vida.
Mais vida. Outra vida.
Novamente, vida.

Ela olhou para a chave.
Sorriu.
Atravessou ligeira a fechadura.
E a porta ficou do lado de fora.

Com suas canetinhas singelas, vai colorindo o planetinha gigantesco ideal.
Usando as mãos, ela pinta com delicadeza meu mamilo, faz cócegas, eu rio, sorrio.
Sua voz de anjo sussurra o carinho que precede toda a existência natural que ela encontrou depois da fechadura.
(Por sinal, eu até então sequer sabia dessa fechadura!)

E a sua missão parece um pouco com a minha.

domingo, 23 de junho de 2013

Mau-mau

Somos uma carta de um curioso baralho.
Na frente, diz Sorte.
No verso, Revés.
E vamos batendo bafo,
E o mundo girando,
Girando,
Girando...
Na frente, Revés.
No verso, diz Sorte.
E vamos soprando castelos,
E o mundo girando,
Girando,
Girando...
Somos uma carta em um baralho curioso.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A moça que foi em Paz.

Seu espírito surgiu em vivos tons, límpido,
Movia-se como que virgem
De toda a escuridão.
Ela projetou-se contra um lindo arbusto,
De bruços,
E ali se esqueceu.
Como uma linha
Ao libertar-se de um tecido mofado,
Deixou-se apenas
Ir.

Não soubera, até então,
Todo o valor que tinha -
Tão pequena, variada e simples,
Casual,
Natural,
Tão... livre.
Ria, sorria,
Como se fosse a primeira e última vez,
Desafiando o medo de ser engolida
E aquela velha vontade de voltar.
Tinha sabor e forma de vinda,
Mas o cheiro e a memória
Faziam-se
Ida.

Viveu a paz que habitava aquele momento,
Folhas
Massageavam-lhe as costas,
Galhos
Asseguravam sua estadia,
E seu corpo era mero devaneio.
Foi quando percebeu um par de cristais
A despontar dos sonhos
Em suas janelas.
Fundidos no calor daquele momento,
Desceram por suas maçãs
Feito trovão ao descer o céu.
Fecundaram o solo
Com uma esperançosa lembrança que
Um dia,
Quem sabe,
Germinar
Ia.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Je, en juin.

Provenho da mistura entre resignação e sonho.
Ora outro nasce de um,
Ora um nasce do outro.
Minha fé: retrato de um pesadelo enfadonho.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Tesouro dos Mapas

Achaste-te sempre por mais que demais
Aquática, por sob a pele
E, por ora, enigmática

Visto um longínquo toque, evitou Satanás
Freática, nua e indeleve
E doutroras sarcástica

Esbanja-te sobre o átlas, profunda em prosa
Infindável, porém, solúvel
E da criação, hmmm... apetitosa

Ó, inodora, "insossa"
Que queres tu de mim?
Fogo? Terras? Inspirante és.
Docinhos? Cravos em quindim?

Não queres escravos pra de ti beber
Não queres guerreiros pra de ti tomar
Não queres poetas a te enaltecer
Não queres duendes a te enfeitiçar

Ó deusa, mãe vida, tesouro dos mapas
Que tão cedo enfim assim tu me namores!
Eu, tão jovial pirata das lapas.

Cascudo

Entendeu que a maioria das pessoas a seu redor não querem ouvir suas críticas, opiniões e idéias;

Percebeu que sua voz ressoava e era escutada apenas no interior de sua cabeça;

Sua enorme roda de amigos dissipou-se em alguns pequenos grupos de sobreviventes, cada qual exercendo vida com base em um indiscutível gosto em comum;

Passou pelo doloroso luto da percepção de estar sozinho e ter de se acostumar;

O sabor da frieza é sua linha de evolução.

domingo, 14 de abril de 2013

1

Um aperto no peito
Um vazio por dentro
Um nostálgico pranto
Um ilógico canto
Um desespero pronto
Um preocupado conto
Um retrocesso bento
Um sonho inatento
Um sorriso eu minto
Um sufoco eu sinto
Um poeta indecente
Um sussurro indigente
Um sucesso distante
Um recalque adiante
Um ultrajado ouvinte
Um imoral requinte
Um escuro na fenda
Um mosquito na tenda

Um aperto na ida
Um vazio na vinda
Um diabo de vida
Um pecado ainda

Um.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Desafio Solidão

Duvido que tu saibas como é
sentir falta de uma companheira
mais frequente do que passageira
lado a lado com a tua hora:

Desafiando os teus minutos
mas em detalhe dos teus segundos
sugando tua mente vida afora.

Duvido que tu saibas como é
saber que o teu amor é infinito
mas que a gramática do bonito
dura só até o primeiro ponto:

Padece e sucumbe feito trema
com reticências te envenena
contornando com aspas teu conto.

Duvido que tu saibas como é
tal descompassado marcapasso
tão conveniente ao suor do teu baço
e à trava das travas da tua língua:

Saliva que sobrou da tua mágoa
n'outros corpos um dia foi água
em ti, árdua e inflamada íngua.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Talksnot


It's gonna be alright
Just roll your love
Anyway you want to
But don't use words

Words are a prey
To the pranks you play

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Súbita facada.

Eu estou feliz, eufórico, animado, contente, pensativo, racional, alegre, amável, esclarecedor, interativo, entretido, dinâmico, morto.

domingo, 31 de março de 2013

Felicidade


Felicidade é um tempero nato:
Tua gula perante minha fome,
Meu sangue bailante em teu prato.

terça-feira, 26 de março de 2013

Hi Barry.


First of all, thank you so much for your attention. I never had someone as charitable as you are by sending me this message.
Things are pretty rough for me, mainly because I am doing absolutely nothing to change. I can't seem to have the power to do so. I think of a lot of different ways to strenghten myself, but they all seem so big compared to me, that I feel low and I feel small. I think they call it depression, and its consequences are to cause bad impressions, not only to people around me, but also to myself.
I used to be so active! So smart, nice to everyone, sincere, charming, handsome.. I used to move mountains, convert demons, polish angels, furbish lost cathedrals and even to find the right people, whether it was the right time or not! Now I feel like Atlas, carrying the whole world upon my shoulders, walking barefoot on rocky soil, but the weight is so huge for me to get strong, my bones are turning into wood, my body's turning into winter, and I'm feeling alone. Gosh, how lonely I am! And how deaf, for people to come and try to cheer me up while I continue to be the same.
I'll surely write, and I'll surely move myself, I trully hope so. I'll also search for outer help.. Maybe spiritual centers, churches, meditation, things which I never thought that I'd be so inclinated to go for.
Do you have a "joyness hobby"? I mean, something that always cheers you up, that calms your spirit? I would love to try that too.
Again, thank you so much for your kind words, and your attention. Kind people like you are of increasing rarity in this cruel world, and I'll stick with you whenever you need.
Hugs!

segunda-feira, 25 de março de 2013

Somos sonhadores, em um mundo de ilusionistas.

quarta-feira, 20 de março de 2013


Hoje não é um bom dia para pessoas
Ao menos acho que acordei assim
Diga logo o que você quer dizer
Que nunca é o que você quer de mim

Não invente grandes histórias de glórias
Anéis, calça e botas, cadarço e sapato
Diga logo e tão logo vire e vá embora
Deixe-me aqui com meu anonimato

Estou gripado, desalmado e constipado
E assim continuarei e estarei sozinho
Diga algo, seja breve, leve, pontual
Há por demais ovos a chocar no ninho

Hoje não é um bom dia para pessoas
Depois não diga que omiti meu desalinho.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Paintball at Bumper Cars


I had a friend
He was a fiend

His thoughts were fearless
His acts were brainless
His aim was flawless
Nuts surely crackless

Beans barely cooked
Misunderstood
Whose coulds were woulds
A shaggy dude

Behaving handsomely
Shooting flawlessly

And crackin' nuts
Left people nuts
He scratched and cut
Chewed, bit and cut

Cuts, bites and chews
Cracks, wraps and thrills
Was no bummer to choose
Lose, use or let loose

No mouth to up shut
No switch to down shut

No materialism
Unexpressionism
Ah, surrealism
But they came with a prism

And they taught him a lesson
They demanded a ransom
Disguised while pasm
Zug-zwang after mess

Told him tales 'bout some son
A underage overrun

His own tales now forlorn
Right before they were born
Ah, fiend overfed and torn
Spells medically worn

And nothing really occurred
With dreams and infancy blurred

So the dark holes are there
So the wormholes are here
Unlike those charms that they bear
Unlike those rumors I hear

I have a friend
No one can see
He is my angel
Appears only to me

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Vomimexê


Vatimbora, solidão!
Não te fui hospitaleiro
Acha um outro companheiro
Vatimbora, fica não!

Saidimim, ócio monstrão!
Não te quero, vil monstrengo
Quero idéias, quero dengo
Saidimim, vã regressão!

Pisafora, mascarão!
Não se atenha ao meu sossego
Queu vampiro e queu morcego
Pisafora, pesadão!

Vemnimim, ó compaixão!
Não só quero o teu elenco
Mas também o teu flamenco
Vemnimim, meu furacão!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Resignation


Pigeons will come around the playground benches everyday
Till they learn that the corn grampa won't be showing up today

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Panorama Elemental


Quem me dera fosse o ar da conquista
Tenro e fogoso
Embora ardiloso

Deparei-me com uma muralha de gelo
Erguida em astúcia
Mantida em falácia

Percebi que era vento na pedra do mundo
Mas eu ia caindo
E a pedra, subindo

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Tuesday Era


Night falls
My stare turns into a spear
Sharpened for master precision
It aims straight to midnight
Tensions

Summer dies
And thus I'll need hands
Others than mine
Autumn leaves wear passion colours
Lullabies

I am loving
Although I don't know what or who
I've counted feelings
Finally awoken, had not enough fingers
Treasures

Cool breeze
Blows my long brown hair backwards
Whispers me to keep myself alive
As I yearn for whatever's next
Beyondskies

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Seu caráter vazio.

Há de entrar no mundo do outro
E comer do seu pão
Beber da sua água
Urinar em seus bosques
Mamar em seu seio
Dizer-lhe amores
Ver nele o entretenimento
Partilhar de seu carinho

Há de invadir a terra do outro
E plantar tuas sementes
Colher teus interesses

Alertá-lo do perigo
Apontando para ele
Tua própria arma

Pedi-lo que entenda
Que a alma há muito morreu
Que o sonho há muito murchou
Que ele jamais foi preciso
Que seu ser não será o bastante

Há de se encantar com o outro
Pensando em cantar o próximo
Pois assim serás feliz.

Café


Olhei bem praquele obstáculo
Decidi que eu iria passar
Não houve nenhum espetáculo
Só tinha Nescafé pra tomar

Jamais passaria, Nescafé

Antes fosse a loucura, a precisar de mim.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Muié fina


Ocê qué qui eu seja teu iscravo
Mas eu tenho uns cravo
Qui ocê num qué catá

Ocê qué qui eu num fique di olho
Mas os meus piolho
Ocê num qué pentiá

Tá achando qui a vida é mole
E só cum rocombóle
É qui ocê qué mi criá

Custumada cum ovo maltino
Meu risotto fino
Ocê nunca vai gostá

Trêis hora no banho e eu nada falo
Meus pêlo do ralo
Ocê qué qui eu vá juntá

Meu trabaio é das seis às vinte
Inda cê qué requinte
E bota cara qué comprá

Eu rezo a Deus qui ocê tome jeito
Qui mi dê respeito
O intão não dá pra confiá

Mas ontem soube que eu tenho guampa
Vaca, sua anta
Eu vô tê qui ti matá


E vô imbora na minha carroça
Te dexá na roça
Enterrada a mofá

LASCA!

O Corvocida - Parte 2


Chapéu de palha que nunca usei; Cinco cabos de vassoura, quatro pro tronco e um pros braços, amarrados por cadarços de tênis que eu guardava há anos, com a sábia certeza de que, um dia, serviriam pra alguma coisa; Uma camiseta, meu xodó, que eu usava (e nunca lavava) pra limpar a porra das minhas punhetas, quando estava no clima de fazer a coisa na cama mesmo; Uns duzentos e cinquenta dentes de alho, que descasquei um a um pensando carinhosamente como se estivesse descascando, na verdade, a cabeça de cada um daqueles queridos corvos, alho por alho, dente por dente (cheguei até a mastigar um ou dois, pensando nas cabecinhas fazendo crack crack, com seus cérebros se tornando meus chicletinhos); Alguns dos meus menos estimados (entre quebrados, feios e mofados) bonequinhos de madeira. Uma regata listrada de verde e vermelho, a qual usei durante os poucos eventos festivos que fui em minha vida, inclusive no casamento do meu irmão com sua prima (que me chupava porque, segundo ela, gostava do "suquinho"); Cerdas de vassoura; Um lençol rasgado; Uma lâmpada.

Pras pernas, amarrei dois cabos de vassoura, paralelamente, depois amarrei um na transversal, pra fazer os braços e, pra me divertir um bocado, quebrei os outros dois cabos batendo contra o peito da perna, viraram quatro, então, amarrei os quatro queném fiz com os das pernas, pra fazer o pescoço. Prendi tudo. Cravei aquela porra na terra, bem fundo, e chutei algumas vezes. Ficou intacto, beleza. Sobrou um pouco de cadarço, então usei pra amarrar as cerdas da vassoura nas pontas do cabo transversal. Fiz, assim, as mãos. Peguei com muito cuidado minha camiseta (tinha um cheiro pútrido  mais tenebroso que a tenebrosidade) e estendi ela no chão. Joguei os dentes de alho todos ali. Tive que voltar em casa pra pegar um prendedor e duas sacolas, porque fiquei com nojo, de verdade. Voltei ao milharal. Forrei minhas mãos com as sacolas, respirei fundo, botei o prendedor no nariz e comecei a prender o alho dentro da camiseta, de forma a parecer uma cabeça humana. Era quase impossível. Eu podia sentir o cheiro de porra apodrecida misturado com o do alho. Aquilo cheirava pior que a bota mais chulepenta do diabo, e se eu respirava pela boca, sentia um gosto pérfido e ácido, desumano. Poderia afastar um vampiro pra nunca mais voltar ao país. Quase vomitei toda a feijoada do almoço, mas consegui dar um nó maneiro e pendurar aquilo nos cabos de cima. Ainda com o prendedor no nariz, peguei a regata style e preguei no cabo transversal. Lembrei da prima, bons tempos.

Fazia anos desde a última chupada que ela me dera. Ia até o fundo da garganta e depois voltava, mas o melhor era quando ela se afogava. E eu fazia questão de nunca avisar quando tava vindo, sempre pegava ela de surpresa, e ela se engasgava, tossia e depois ficava toda envergonhada, sorrindo queném uma boboca. Aí eu pedia pra ela escovar os dentes, por causa do marido, mas ela sempre ficava mais um pouco com a gelatina na boca. Dizia que era quentinho e mágico, olha que anjinho. Bons tempos mesmo. É uma pena que meu irmão tenha estourado sua barriga com a punheteira cano duplo, logo depois dela contar que o filho "talvez" não fosse dele. Confesso que ele abusava um bocado da coca, mas enfim.

A obra de arte estava quase pronta, agora só faltava um toque de requinte campestre. Peguei o lençol rasgado e fiz uma capa maneira. Pendurei na parte de trás do cabo transversal, e vualá! Ou talvez não. Ainda faltava a lâmpada. Peguei as pilhas e coloquei na base, depois pus a lâmpada bem no centro de todos os cabos, pra dar um destaque enorme. Tirei o prendedor do nariz e as sacolas e, é claro, me afastei pra dar uma boa olhadela naquele novo companheiro que criei.

Decidi chamá-lo Rudolph, em homenagem à rena número um. Fui tomado de uma súbita felicidade, e já não mais me sentia tão só. Aquilo me despertava regozijo tanto quanto o fazia Wilson para o naufragado. Minhas esperanças refloriram dentro deste seco e despudorado coração. Os novos sabugos levariam mais um bom tempo pra crescer no milharal, mas cresceriam, já que, agora, Rudolph estaria lá para eles, assim como Deus está para todos nós. Era tanta alegria, que joguei minhas mãos para o alto e o saudei:

- SEUS FEDORENTOS FILHOS DA PUTA, VEJAM, VEJAM AQUI!!! TEMAM, POIS ESTE É O FILHO DE SANTA CLAUS E PAPAI TOBIAS!!
ESTE É RUDOLPH!!! HAAAAAHAHAHAHAHAH

Por fim, pendurei os bonequinhos de madeira no seu grande e magnífico chapéu de palha. A deformidade de ambos sossegou meu coração, se amariam tanto quanto eu amei criá-los.
Estava pronto, meu espantalho.

A'lothlorien


O sol da manhã desponta e ilumina a moça na cama
Bate no verde da grama e nas grandes janelas de vidro
Invade o salão de madeira e realça o oliva escuro do musgo
Que naquelas paredes proliferou-se, junto a teias, de aranhas
Há muito idas.

O céu é a única coisa que, com seu azul e núvens, excede o verde
Dali, porém, sô se vê luz mágica transformada pelo vidro ancião
Isto é, se você for essa moça que, profunda e eternamente
Ali repousa, imóvel, insípida, um sonho impossível, o rasgo
De muitas vidas.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Árvores móveis.


Eu pensei que talvez te alegrarias
Em saber do bem que tu me fazes
Que ao bem querer meu tu sorririas
Que é o mesmo querer que tu me trazes

Sonhei que sonhos não mais teria
De crescimentos desenfreados
Porém, a alma é quem avalia
Produz sonhos gordos e inchados

Vi no cinema o que é o amor
Que é uma flor de beija-flor amado
Que seu fruto é de um raro odor
Que só a semente se tem achado

Mas não, o amor não é encontrado
O amor é que quer nos encontrar
E o faz, tão bêbado e madrugado
Quando já é tarde demais pra amar.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Trata-te ínguas

Tétano atroz e trombetas trajadas geram rajadas
Dilemas me mimam o mármore
Trítano, tímpano, távola
Sentido, cinco, centígrado
Grana, grama, ganha-pão
Pés, voz, noz, nosso albatróz
Eu, ti, tu, nós, eles, vós
Toldos, boldos, aquéns, quandos
Pastilha, pilha, quadrilha
Forquilha, ilha, fornalha
Palha, milho, milharal
Cravo, uva, vinho, vilão
Quente, quentinho, quintão
Quintal, querência, ênfase
próclise, ênclise, mesóclise
Ateu, atado, atônito, tônico
Assim, assado, arfado, alado
Torrado, torradeira, torrão
Tripé, tetraedro, tentado
Concurso, câmbio, bocão
O peito do pé do pedro é preto
O preto da ré do pedro é peido
Mamãe mamou na mama e mamadeira
O azul-anil do céu com zorro sofro morro louco
Retiro o tinto do tiro e o tiro o tento tinindo
Tratante a tinta trotando te atira à testa o tingir
Tatame tomo tomé tentáculo trovão totem tentador
Atira vira viril vírus Avast Avira AVC
Sensato inssosso solfejo lampejo beijo girino grilo pocilga pulga pinga pitinga pinta tigela late tatu tigre
Grenal nau aureola joia ideia boia iate telão órfã sótão órgão grão porém porá porão pôs pus pague braga bagre
Ronronar narguilé léxico coração sancionei eiterou ouviu uivou aí vou viu vai vem ente terno tenro genro rolimã magenta
Cala boca soca calo bota calça calça bota boto ralo ralo cáqui quinto grito pistão gilberto gil milton vasques questão
Tele-tom tim bum bão
Trata-te trégua então

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Casoi

Casei com a arte
Sofrer?
Faz parte.

Alexia

Feito corvo à ronda da putridez
sinto o cheiro do prazer
e o fedor
contido em cada partícula
do suor
de meu vôo ao desprazer

Como águia fitando a gorda coelha
aguardo o flash
de uma câmera desumana
meu bico mexe
tua inocência profana
a futura cenoura

Tal qual a agulha
daquela vitrola quebrada
empoeirada
à espera de um arranhar
explosivo
naquele velho vinil do Dire Straits

Te acolho em meus braços
cato os teus pedaços
vou te colando
como dá

Seu último truque -
Que fique embaixo da manga.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

...

O sol não nasce
A gente sim

domingo, 6 de janeiro de 2013

Um Tanto Quanto Opor


Tanto quanto rir, posso chorar
Tanto quanto ser, posso estar
Tanto quanto ir, posso ficar
Tanto quanto ter, posso largar
Tanto quanto vir, posso voltar
Tanto quanto ver, posso olhar
Tanto quanto ouvir, posso falar
Tanto quanto crer, posso negar
Tanto quanto abrir, posso fechar
Tanto quanto arder, posso curar

Tanto quanto der, devo doar
Tanto quanto vier, devo lidar
Tanto quanto houver, devo abrigar
Tanto quanto quer, devo instigar