quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Poção do Amor

Certa vez, um sujeito se enganou
Ao invés de remédio, tomou poção do amor
Havia muito que tamanha era a dor
Que toda amargura o veneno então sanou

Nas veias correu; no sangue, descansou
Desentupiu artérias e aliviou o pavor
Cicatrizou feridas e removeu o ardor
E no coração do sujeito se demorou

Este, tão bem sentindo-se, enfim relaxou
Como se nunca mais fosse sentir horror
De súbito, porém, bateu-lhe um pavor
"Ó céus, e agora? A poção se acabou!"

Angustiado à procura, ele nada encontrou
Corpo em delírio, mente a pressupor
Devido à dependência, afogou-se em torpor
E na abstinência o sujeito ficou.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Meu primeiro encontro com Deus.

Foi num sonho.

Era um dia ensolarado.
Resolvi ligar pra minha namorada (de dez anos atrás) e convidá-la pra conhecer a casa de meu pai, onde me encontrava. Foi uma decisão in subitus, pois estava me sentindo sozinho e dela tive saudades (estranho).

Liguei para ela e combinamos o encontro a meio caminho, para que eu a buscasse. Resolvi pegar dois ônibus.
Essa parte não lembro muito bem, pois era daquelas confusões de espaço/tempo, típicas do sonhomundo.

Lembro que caminhava, talvez em direção à próxima parada. De repente, eu estava em um cruzamento, algo ao topo de quatro lombas. Lembro um bocado do visual e do caminho traçado após o ocorrido, mas não recordo as partes fora disto.

Havia um bar bem na esquina. Estava aberto. Eu tinha sede. Muita sede.
Ficava bem na divisa da lomba a qual eu desceria, com a lomba a qual eu subi.

Entrei no bar e haviam três pessoas: um homem jogando sinuca sozinho, um velho vendendo água e o barman, que estava atrás do balcão. Nenhum prestou grande atenção à minha entrada, a meu ver algo corriqueiro.

Depois de umas passadas mais a dentro, reparei que esse tal velho vendia água. Eu, com muita sede, fui direto a ele, visando uma resolução:

— Olá amigo. Quanto é a água?
— Um e vinte e cinco.

Botei a mão no bolso. Tinha uma moeda de R$ 1,00 e uma de R$ 0,25. Peguei ambas e dei pro velho.

Parecia não estar muito atento à realidade. Tirou do casaco um bolo repleto de notas. Vi muitas de R$ 2,00 envoltas nalgumas de R$ 10,00.

Peguei minha água. O velho, meio atrapalhado, ia logo me dando troco. Parece que não falava, não mais que o suficiente.

— Não precisa, amigo! Deu certinho.
— Hum.

Quando eu tava quase abrindo a garrafa pra dar aquele gole simbólico, reparei numa coisa. Havia ali umas três ou quatro garrafas de água, apenas, todas sem rótulo, meio esquisitas, guardadas dentro de uma grelha desligada e suja, podre, de ferrugem. Cedo notei que as garrafas pareciam ter sido violadas, refiladas com água da torneira.

Não liguei, a sede era muita, e eu muito sedento a matá-la.

Dei um gole.

$#¨%@&$%&¨#$@&%

O gosto salgado trancou minha garganta.
Tirei o gargalo da boca e babei.
Desespero, tentando o mais rápido cuspir aquela merda.

— Velho filho da puta! Tu tá louco cara?!

O velho riu que só faltou se mijar.

Era água do mar. Repleta de sal. Taquei a garrafa no chão e saí, puto da cara. No caminho arrastei uma toalha de mesa pro chão e derrubei algumas cadeiras, furioso com aquela sacanagem.

Atapetado, subi a lomba que ficava entre aquela de onde vim e aquela pra onde eu iria. Creio que era a única subida, do ponto de vista do cruzamento.

Chegando ao final, tinha alguma espécie de supermercado. Bem pequeno, com poucas coisas à venda, mas disso pouco recordo. Tudo envolto em fumaça de sonho.

Atrapalhado, liguei pro 190:

— Pronto socorro.
— Puts, foi mal.

Desliguei.
Com mais calma, vamos de novo. Um. Nove. Zero.

— Central da Brigada.
— Cara, eu quero fazer uma denúncia.
— Pois não?
— Cara, fui até um bar e tinha um velho vendendo água do mar. Eu queria...
— TU, TU, TU, T-...

Desligou na minha cara. Achou que era trote!
Vamos tentar de novo.

— Central da Brigada.
— Cara, não é trote não, eu tô falando sério. Tem um cara vendendo água do mar, dizendo que é mineral.
— Aaah... tá, ok. Fala.
— Mano, vocês têm que vir aqui. Pera que eu já te dou o nome da rua.

Começou a ficar turvo de novo. Lembro que eu ia descendo a lomba pra procurar o nome do cruzamento. Quando olhei pras placas, já não via muita coisa, no meio daquela fumaça de sonho.
Do telefone, ouvi:

— Amigo, faz o seguinte. Procura aí a opção (não lembro a última palavra que ele disse, mas encontrei o tal botão no meu celular. Era um ícone com uma mão estendida pra frente, um tanto inclinada pra cima, em perspectiva e, acima, umas nuvens, com um sol gigante no meio)

Apertei o botão.

Acordei, morrendo de sede.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Não sai.

Ela não sai da minha cabeça
Parece até um chapéu.