Minha escrita morreu, não mais sei escrever
Tampouco enfeitar aquilo que há de crer
Minha escrita morreu e eu sigo aflito
Caguei-me, ao tentar construir um mito.
O tédio me engole a este exato momento
Sou chato, quadrado e inimigo do vento
Releio minh'obra, mas obra não há
Só lixo no chão e poeira no ar.
Minha cuca parece a caixa de gordura
Que entupida impede a pia de estar pura
É tanta porcaria que já estou no talo
Nojeiras tamanhas, podridão do ralo.
Pouco do que trago faz muito sentido
Muito do que faço é somente alarido
Feito um cão que late detrás do portão
Entreaberto... Segue latindo, então.
Assusta-me tal potencial incisivo
Que habita a escrita de um depressivo
Enquanto a felicidade bate à porta
Manca, caolha, fodida e toda torta.
É só mais um dia como qualquer outro
Algumas novidades ocorrerão de novo
Espero um dia conseguir transcrever
O sal desta Terra que há de nos comer.