Perdi o interesse pela leitura. Não quero mais escutar música, nem assistir TV, muito menos ir ao cinema. As pessoas não me despertam novidades, tampouco o vice-versa. Há meses não sei o que é ficar ao Sol, e pela noite eu vigio uma tela e o alfabeto distribuído em teclas, sem qualquer esperança. Crítica, cultura, vontade, criatividade - todas palavras extintas por meu ócio absoluto. A minha percepção dos fatos está alterada, de forma a criar bloqueios reativos para cada faísca de cura. Há anos não derramo uma lágrima, há décadas não te olho nos olhos com firmeza. Sinto-me livre dentro de meu quarto e preso por meu cérebro.
Perdi o interesse pela esperança. Não quero mais escutar as mesmas coisas de sempre. Não quero trabalhar, nem estudar, muito menos acordar. Minha pele está cheia de feiuras, meus dedos estão quase mortos, meu pé, entretanto, não cessa sua intermitência nervosa.
Passei duas horas pensando no dia em que alguém cortaria minhas cordas vocais com uma faca, removendo a minha capacidade de cantar até o dia de minha morte, e aceitei o fato. Motivo de entretenimento - ter justificativas para ser louco. As pessoas são tão frias que conseguem fingir perfeitamente seus calores. Os pilares sociais desabam sobre mim, ao que eu vejo meus vícios como os únicos amigos. É nesse troca-troca de interesses que eu vejo a tolice suprema da humanidade. A necessidade do indivíduo de abdicar-se da sua condição auto-suficiente para tornar-se escravo de um grupo liderado por um ou outros indivíduos cujos quais possuem esta mesma condição mais íntegra me faz ter a jovial fantasia de homicídio.
A grande razão existencial do século é ver quem prova ser o mais problemático sem se expor à dignidade da pena alheia.
Nada que cinco ou seis horas de sono não resolvam.
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