Tinha as mãos de enfermeira
Porém, esculpidas para o prazer.
As palavras e os gestos
Traduções do prezar da amizade infantil.
O pequeno seio, embora marítimo
Era repleto de amor fraternal.
À minha presença
Portava-se desvergonhosa, natural, feito uma irmã.
As portas, sempre abertas ao me acolher.
O habitat, prenúncio da gama extensa
Da fauna
Da flora
De sentimentos animalescos que, no entanto, viravam chicletes.
Mascava-se a dor
Para aliviar o gosto das mentiras
Que parasitavam minha garganta.
Tinha a teimosia de Peter Pan
A qual enfrentava em nível mútuo, duelo sangrento
Com sua maturidade circular, oca
Desprovida de arsenais em matéria
Criada em pântanos labirínticos
Onde tudo era nada
E nada
Menos ainda.
Ensinou-me a chorar
E por tal eu chorei quando sequer lágrima restava.
Inseriu-me a dor da eternidade
Já habitada, por seus fantasmas
Com dos quais o assombro lhe dava fruto ao gozo
De sua vaidade que queimava.
Seu fogo, insaciável
Apenas pela fonte a qual jurou amar —
Minha sincera, límpida
Nascente.
Tinha uma tristeza programada
Sociopatia congênita
Que me aniquilava
Em cada novo ciclo lunar.
Todas suas sensações buscavam novas platéias.
Ela, ventríloco.
Eu, boneco.
Reduziu-me a cada dia
Com suas estrelas cadentes e cometas secretos.
Passei de astro a molécula
Dissipado, chegou minha hora
Dei-lhe um último beijo
À testa
Recolhi meus átomos
E fui embora.
Mas houve, ali, algo de muito bom.
E, alojado em mim
Certo peso
Uma passiva, latente esperança:
Saberei o que é
Outrora.
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